por Egídio Dórea
Artigo publicado no New York Times de março de 2021 por Benedict Carey reforça a noção psicológica de que o a idade e o bem estar emocional tendem a crescer juntos, mesmo que ocorra uma queda da acuidade mental e física. Comparados aos mais jovens, adultos acima dos 50 anos consistentemente obtiveram um resultado melhor ou mais positivo em uma série de emoções diárias. E isso independentemente de educação e renda. Mas qual seria a explicação: desenvolvem melhores formas de lidar com essas situações ou melhores formas de evitá-las? Para se estudar isso era necessário um cenário em que ambos os idosos e jovens fossem submetidos a mesma situação de estresse. Recentemente, estudo realizado por Laura Carstensen com 1000 indivíduos entre 18-76 anos nos EUA avaliou o preenchimento de um diário sobre as emoções positivas (relaxado, contente) ou negativas (culpado, raiva), sentidas na semana anterior. E a intensidade dessas emoções. A hipótese de que os idosos teriam um melhor bem estar por evitarem situações de estresse não seria válida nesse contexto atual da COVID. E apesar de os grupos estarem em um mesmo nível de estresse, os idosos relataram mais emoções positivas.
Em um estudo similar, psicólogos da universidade de British Columbia pesquisaram exaustivamente 800 pessoas de todas as idades nos primeiros meses da pandemia e mostraram os mesmos resultados. A pandemia aumentou o idadismo, na qual os idosos forma vistos de uma forma homogênea como um grupo mais vulnerável. Mas o estudo mostrou o oposto: os idosos tiveram maior número de emoções positivas, lidaram melhor com o estresse e melhor sensação de bem estar diário.
E os idosos, sobretudo aqueles com recursos financeiros, conseguiram lidar melhor com as novas rotinas do dia a dia: delivery, contratação de pessoas e ficaram mais confortáveis em casa e sem lidar com as crianças. E a importância desse fator se mostrou evidente quando comparamos com estudo realizado no Bronx, onde os mais velhos ajudavam a criar os filhos e netos e eram submetidos a um maior nível de estresse. Nesse contexto não houve diferença entre os mais velhos e mais jovens em relação ao bem estar.
Esses resultados fortalecem a teoria desenvolvida há alguns anos pela Dra. Carstensen sobre a seletividade sócio-emocional. Após a meia idade as pessoas se tornam mais cientes de um horizonte mais curto pela frente e consciente ou inconscientemente priorizam atividades que os façam mais felizes. Eles se aceitam como são e não como deveriam ser. Isso gera uma menor carga de estresse e um maior sentimento de realização e positividade em relação à vida.
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Egídio Lima Dórea
Graduação em Medicina pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública. Residência e
doutorado em Nefrologia pela Universidade de São Paulo. Professor de Medicina da
Universidade São Caetano do Sul. Diretor da Aging 2.0 Chapter Brazil. Coordenador da
Universidade Aberta à Terceira Idade da USP (USP 60+). Coordenador do programa USP Rumo ao Envelhecimento Ativo. Membro da comissão de Direitos Humanos da USP. Conselheiro do International Longevity Centre Brazil.
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